sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A diplomacia da Educação


ANDERSON S. L. GOMES

Secretário de Educação do Estado de Pernambuco e Professor do Departamento deFísica da UFPE
andersonslgomes@gmail.com
Publicação: 16/08/2012 03:00
A diplomacia é a arte e a prática de conduzir asrelações exteriores ou os negócios estrangeiros de um determinado país ou outrosujeito de direito internacional. Geralmente, é empreendida por intermédio dediplomatas de carreira e envolve assuntos de guerra e paz, comércio exterior,promoção cultural, coordenação em organizações internacionais e outros. Emgeral, a educação não está incluída explicitamente com questões diplomáticas.No entanto, é bastante difundida e utilizada a interação científica entrepesquisadores de países diferentes, inclusive com bastante mobilidade deestudantes de graduação e pós-graduação, a partir de projetos de pesquisa bilateraise com apoio financeiro de agências nacionais e internacionais de fomento àpesquisa. O Programa Ciências sem Fronteiras, do governo federal, ampliaenormemente esta mobilidade para estudantes do ensino superior.
Um outro modelo não institucional utilizado na área da educação é o intercâmbiode estudantes entre países, tanto do ensino superior como do ensino médio (emmenor escala). Estes programas são privilégio de poucos, devidos aos custosindividuais.
Em abril deste ano, em evento no Rio de Janeiro com a presença do governadorgeral do Canadá em encontro com 30 reitores de instituições de ensino superiorbrasileiras e 30 de seus pares canadenses, ouvi o termo diplomacia da educaçãopela primeira vez, e me dei conta de que Pernambuco está praticando de maneirainédita esta forma de diplomacia.
Uma das iniciativas do governador Eduardo Campos na área da educação foi acriação do programa Ganhe o Mundo. Neste programa, iniciado em novembro de2011, cerca de 24 mil estudantes que cursavam no segundo semestre/2011 oprimeiro ano do ensino médio foram selecionados para estudarem inglês eespanhol, de forma intensiva e diária, além da carga horária regular dasdisciplinas de línguas estrangeiras.
As aulas ocorrem no contraturno na própria escola, e foi selecionado através deedital público um consórcio de instituições de ensino de inglês para que, comprofessores indicados por eles, fossem ministradas as aulas em turmas com até30 alunos por escola. O resultado deste processo é que, em todo o estado, maisde 800 turmas já estão formadas, em escolas de 134 municípios.



Outra ação importante e pioneira no país no âmbito do programa Ganhe o Mundo éo intercâmbio internacional para estudantes da rede estadual. Nesteintercâmbio, participarão os melhores estudantes de cada turma, de forma quecerca de 1000 estudantes passarão um semestre letivo em uma High School noCanadá, Estados Unidos, Reino Unido ou Nova Zelândia, para língua inglesa, ouEspanha, Chile e Argentina, para língua espanhola. Para o primeiro processoseletivo já realizado, cerca de 3000 alunos se inscreveram para as 1.000 vagasde 2012. Os primeiros 67 estudantes já embarcaram com destino aos EstadosUnidos, e até o final de setembro 563 estudantes terão ganho o mundo.
Por que cuidar para que os estudantes do ensino médio da rede pública completemseus estudos com habilidade em uma segunda língua? Não é só pela Copa dasConfederações em 2013 e Copa da Mundo de 2014, onde Pernambuco é uma das sedes,não é só porque precisam de uma segunda língua, não é só porque isto vaimotivá-los ainda mais nos seus estudos, ajudando a reduzir a evasão escolar,mas é por tudo isto junto e mais, porque uma segunda língua é uma habilidadenecessária a todo estudante que termina o ensino médio no século 21.
O ensino médio é um dos grandes desafios da educação básica brasileira.Estudantes desmotivados, desempenho abaixo do esperado, evasão alta e o paísprecisando de cérebros. Nós temos escolas do século 20 com estudantes do século21. As habilidades necessárias para o tempo atual não são as mesmas de 20 ou 30anos atrás. O estudante precisa ter alternativas e oportunidades na escola. EmPernambuco, o ensino médio já está com cerca de 35% dos estudantes tendo aulaem 217 escolas de tempo integral ou semi-integral. Até 2014, serão 300 escolasatendendo todo o ensino médio neste regime.
O tempo na escola é ocupado pelas disciplinas regulares, por reforço nestasdisciplinas onde necessário, mas principalmente para fomentar novas atividades.Entre elas, o curso de inglês ou espanhol, já iniciado, tem deixado osestudantes com novas perspectivas. Boa parte destes estudantes estará em brevenas universidades e poderá também explorar seus conhecimentos bilíngues nomercado de trabalho. Para os estudantes que galgarem a oportunidade de ir aoexterior, certamente vão retornar para concluir o ensino médio com outra visãode Brasil. Serão os verdadeiros diplomatas da educação.
Estando numa escola pública, onde a maioria das famílias não tem rendasuficiente para, por conta própria, enviar o filho ao exterior, o governo dePernambuco está proporcionando esta oportunidade, arcando com recursos própriostodo o programa Ganhe o Mundo, inclusive o intercâmbio internacional. Porqueeducação pública com qualidade, base para o futuro, se faz com planejamento einvestimentos. Em Pernambuco, o futuro a gente faz agora.

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